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Os dias 9 e 10 de Maio encheram-se de ideias para os que aceitaram o apelo da quarta edição do Encontr'arte e foram ao encontro das diversas ideias e iniciativas que este propôs sob o mote "Encontros de Ciência, História e Arte com o Património" e que decorreu nos vários espaços culturais que fazem da Rua Abílio Beça, em Bragança, uma artéria privilegiada da cidade.

O projeto é dinamizado pela Promovido pela Raiz Editora e o Centro de Formação de Escolas de Bragança Norte, tendo como parceiros de acolhimento o Museu Abade Baçal e o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais. A excelente coordenação de João Lima encerra assim nesta cidade transmontana o projeto que nos últimos anos colocou milhares de professores a ouvir, falar e experimentar arte.
Os dois dias do evento, destinado a professores, trouxe a Bragança projetos de todo o pais através da voz daqueles que os dinamizam e que partilham o desejo comum de aproximar a sociedade dos espaços culturais e proporcionar o intercâmbio saudável entre as diversas linguagens do homem. Durante este percurso formativo os presentes conheceram as atividades, os esforços e intenções, os sucessos e constrangimentos e viram, sobretudo, como há quem não baixe os braços e continue a acreditar que é sempre possível fazer mais pela arte e educação em Portugal, incentivando a realização de práticas pedagógicas e projetos inovadores que relacionem a Ciência, a Arte, o Conhecimento, a Escola e o Património Histórico, Cultural, Imaterial e Científico que conferem um novo ânimo e sentido à actividade docente.
No primeiro dia, depois da abertura oficial, a primeira conversa, "Encontros de Pensamentos, Perguntas e Curiosidades", fez confluir três importantes testemunhos: Jorge Costa ofereceu aos participantes uma curta viagem pelo património de Bragança, destacando o Centro de Arte Contemporânea e as exposições que nele podiam ser visitadas no momento, nomeadamente a de Bernardí Roig, já que é a primeira vez que o conceituado artista espanhol expõe em Portugal; a Casa das Histórias de Paula Rego, que Catarina Aleluia e Diana Silva defenderam mostrando a sua riqueza e abertura a mil outras possibilidades e artistas, na senda da vontade da pintora que lhe dá o nome; os "não lugares" que Vitor Tavares quer incentivar todos a procurar e divulgar nas suas cidades para que estes possam ser intervencionados e social e arquitetonicamente integrados. A polémica designação destes espaços haveria de ser retomada muitas outras vezes ao longo do encontro. O encerramento do dia foi com chave de ouro e deveu-se à excelência do Projeto Fauna, de Aveiro, que através de Joaquim Pavão e Isabel Fernandes Pinto, apresentou "Fiandeira", uma belíssima performance/arte.
A manhã do segundo dia teve uma componente mais prática, com diversas oficinas de exploração criativa a decorrer em simultâneo em dois espaços incontornáveis no espaço cultural brigantino: o Museu Abade de Baçal e o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais. Neles experimentou-se pintura, fotografia, dança, tipografia. E a história aconteceu. No meu caso, a opção pela oficina dinamizada por Vitor Tavares revelou-se surpreendente pela sensibilização para necessidade de agir no sentido de evitar a degradação de espaços da cidade que outrora lugares são hoje não-lugares. De olhar atento e máquina fotográfica à mão, os formandos percorreram as ruas e becos da cidade e partilharam e discutiram as opções fotográficas que tomaram.
A tarde abriu com o texto de Almada Negreiros " O homem que não sabia escrever", que deu o mote para a importância da riqueza interior, do conhecimento, de contactos que desbloqueiem o pensamento, já que a escola sozinha parece não conseguir a concretização plena dos seus objetivos. Na segunda conversa, Marta Ribeiro, Dulce Ferreira, e Vânia Meleiro mostraram vários espaços de eleição nacional: o Museu da Imprensa, no Porto, um espaço de referência nacional que além de ser um museu vivo que tem levado milhares de alunos numa viagem pela história da imprensa e que acolhe também anualmente o Porto Cartoon; o Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, perto de Sintra, que além da exposição permanente, intitulada "O livro de Pedra", onde pedras tumulares, sarcófagos, lapidares romanas epigrafias contam a história do homem desde a época etrusca à idade moderna tem exposições temporárias e desenvolve diversas oficinas educativas, este ano subordinadas ao tema "A herança da cultura clássica", que conduzem os jovens a um melhor conhecimento do passado e à sua comparação com o presente de forma lúdica e apelativa; a Fábrica Centro de Ciência Viva, de Aveiro, que, como defendeu Dulce Ferreira, quer contribuir para que os jovens sejam capazes de com um olhar próprio ver as outras faces do mundo, de se questionarem e ousarem.
A terceira e última conversa, "Encontros entre a Palavra, a Imagem e a(s) Cultura(s)", juntou Ana Maria Afonso, que mostrou a beleza, riqueza e dinamismo do Museu Abade de Baçal, em Bragança, espaço que tem proporcionado aos jovens um importante contacto com a história; Joana Andrade, do "Espaço- corpo", que rapidamente e sem que se desse conta disso foi capaz de inverter as posições da sala: o observador converteu-se em observado e a perspetiva mudou de facto; Fernanda Santos, da Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual, mostrou o poder da arte na transformação que esta é capaz de operar nas pessoas.
O encerramento do segundo dia veio com um apontamento musical em piano e flauta pelos alunos do Conservatório de Música de Bragança.
Dois dias, múltiplas ideias que fomentaram o "conhecimento e a reflexão em torno da temática do Património material e imaterial na relação pedagógica com as diferentes áreas disciplinares e em dinâmica com as comunidades escolares", como era objetivo deste encontro. Dois dias, múltiplas ideias que mostraram como a escola pode associar-se às outras instituições culturais para fornecer aos alunos conhecimentos e ferramentas de que eles precisam para se expressarem nas múltiplas linguagens que têm ao seu dispor, para que o espaço vazio e a folha em branco sejam vistos não como bloqueios, mas antes como oportunidades.

 

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