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Este ano letivo entrei numa nova fase da minha vida a qual há muito aguardava: o ensino superior, nomeadamente a entrada no curso de medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Há vários anos que sonhava com o meu ano de caloira: com todas as saídas com amigos, as festas, as aulas presenciais todos os dias com todos os meus 250 colegas num único anfiteatro a falar dos casais sensação a meio de uma aula teórica de anatomia; tudo isto e muito mais era o que ambicionava para o meu primeiro ano no curso com o qual sempre sonhei. No entanto, tal não foi possível e deparei-me com um ensino superior completamente diferente do que os meus colegas de outros anos tiveram quando chegaram à faculdade. 

De facto, encontrei-me numa nova cidade, sozinha, fechada num quarto o dia todo sem ver ninguém, a ter a maioria das minhas aulas por zoom, no caso das práticas, ou por vídeos previamente disponibilizados por parte dos docentes, no caso das teóricas, e a ir simplesmente uma vez por semana à faculdade para ter teste de anatomia no teatro anatómico com apenas mais cinco colegas na mesma sala que eu.

Isto aliado ao facto de não ter havido um ponto de rutura entre secundário e faculdade que me fizesse sentir que estava a terminar um ciclo e a começar outro fez com que não me tivesse sentido integrada neste novo mundo universitário e tivesse sentido que a faculdade era apenas a continuação do secundário, mas com mais matéria e novas caras. Neste sentido, faltou-me a integração e o sentimento de pertença à faculdade, na medida em que passei os últimos 3 meses a sentir que estava a aprender medicina através de vídeos no Youtube. Estes fatores levaram à falta de sentimento de responsabilidade e rigor comigo própria, o que dificultou o cumprimento de horários e planos de estudo. 

Na minha opinião, ainda que o ensino à distância seja, sem dúvida, um dos pilares para conter a pandemia não é de todo benéfico para os estudantes e traz consequências, quer a curto, quer a longo prazo. Para além do óbvio decréscimo da atenção dos alunos nas aulas, vêm associados outros problemas como a dificuldade em criar um método e uma rotina diária de trabalho eficazes, hábitos de sono constantes e até assegurar a saúde mental dos estudantes.

No meu curso, concretamente, torna-se muito difícil acompanhar a matéria e conseguir adquirir conhecimentos sem aulas presenciais. Neste segundo semestre, ao contrário do primeiro, não temos aulas práticas de anatomia presenciais, tendo-nos sido privado o contacto com o material cadavérico no teatro anatómico que é, sem margem de dúvidas, o nosso principal instrumento de estudo.

Há quem diga que temos mais tempo para estudar, o que não deixa de ser verdade, no entanto, a falta de rotina, da correria de sair de casa de café na mão para não chegar atrasada faz mesmo muita falta, embora não pareça.

Assim sendo, tendo tanta matéria para acompanhar, sempre a acumular-se no moodle, aliado ao facto de estarmos confinados, sem podermos sair de casa, conviver com outras pessoas ou até viajar para quebrar a rotina, conseguir manter a sanidade mental torna-se um dos maiores desafios. Não obstante estar no curso que quero e estar só no primeiro ano e ter ainda alguns anos pela frente para viver estas e muitas mais experiências, a verdade é que se torna muito difícil não ir abaixo com todas estas circunstâncias.

No entanto, a pandemia não foi, de todo, impeditiva para criar novas amizades que acredito que sejam para a vida. Ao contrário do que pensava, inicialmente quando escolhi a FMUP não me deparei com uma competitividade tóxica, mas sim com um espírito de equipa no qual há partilha de material de estudo, o que faz sentido até porque no futuro iremos todos trabalhar em equipa e, nesta área em particular, a partilha de conhecimento é a chave para o sucesso, já que todos procuramos saber cada vez mais e melhor para tratar todas as pessoas que colocarem a sua vida nas nossas mãos. 

Concluindo, ainda que a minha experiência de ensino superior não esteja a ser a que sempre sonhei, já me fez crescer, conhecer novos ambientes, criar novos laços e contactar com novas realidades. Portanto, para que esta seja completa espero que em breve possamos todos voltar à nossa “vida normal” e que as aulas passem a ser presenciais para que o ensino médico não perca qualidade e mantenha a excelência pela qual é conhecido até aqui.

 

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