A A A

Como caraterizar a vida no interior? Ar puro, ambiente, saúde, calma, poupança, segurança, satisfação, cultura, educação e, por tudo isto, qualidade.

Interioridade é um conceito frequentemente encarado de forma negativa. Por isso, quando há interesse em abordar o tema, omitem-se as suas vantagens. Se tivermos em conta o número reduzido de pessoas que vive no interior em relação à população total do país, podemos dizer que, dessas desvantagens e defeitos enumeradas pela maioria, poucas são as que são apontadas por pessoas que realmente experimentaram os efeitos de viver fora do litoral. Não conhecem bem o interior e, por isso, o estereótipo criado acerca destas regiões é, muitas vezes, falso.


Acordar de manhã e poder ouvir o silêncio, sem o incomodativo som do tráfico, não é, definitivamente, para todos. Acordar de manhã e ter a oportunidade de respirar um ar não poluído, de ouvir a natureza em vez de barulhos antrópicos e de sentir calma e serenidade são vantagens exclusivas de quem opta por viver no interior, longe das grandes cidades mais industrializadas. Talvez seja essa a razão da menor ansiedade que caracteriza o dia-a-dia dos habitantes destas cidades.
Além desta calma, e em parte decorrente dela, pode acrescentar-se o sentimento de segurança. Os espaços são mais pequenos, a percentagem de pessoas desconhecidas/estranhas é muito menor, o que diminui a ocorrência de crimes.
Andar a pé e conseguir chegar a todo o lado num curto espaço de tempo também não é para todos. As curtas distâncias características de cidades mais pequenas e compactas são também uma vantagem de viver no interior. De facto, como as cidades são menos industrializadas e têm uma taxa populacional menor, isto reflete-se no seu tamanho e o que encontramos no interior são cidades menores, onde para uma pessoa se deslocar de um sítio para outro pode (e deve) optar por caminhar, o que é mais saudável e económico.
O facto de as distâncias serem curtas traduz-se num menor dispêndio de tempo, aumentando a quantidade de tempo livre disponível, que pode ser canalizado para satisfazer os interesses e necessidades de cada um, e que contribui para uma maior realização e satisfação pessoal.
Assim, caminhar e usufruir de tempo livre, aliados à calma e à falta de poluição já referidas, criam condições propícias ao desenvolvimento de uma vida muito mais saudável.
Poder-se-ia ficar por aqui, mas são ainda outras as vantagens de viver no interior. Poder cultivar e produzir alimentos por conta própria também não é algo ao alcance dos habitantes das cidades do litoral. No interior, pelo contrário, há uma íntima relação da cidade com o campo, principalmente devido à proximidade entre estas duas realidades, que leva a que não seja possível separá-las. Ainda que pareça que é quase insignificante, a verdade é que o dinheiro que se poupa faz a diferença e, em tempos de crise como os que atravessamos, é muito benéfico. É, por isso, fácil concluir que a produção privada de alimentos conduz não só a uma poupança económica, como a uma alimentação mais saudável, uma vez que os alimentos cultivados são, na sua maioria, altamente recomendados pela roda dos alimentos.
Por fim, é importante refletir acerca do aspeto cultural e educacional. A verdade é que a quantidade de eventos culturais é mais reduzida no interior, devendo-se isto à falta de população. No entanto, hoje em dia é fácil ter acesso à cultura de maneiras muito variadas e muitas vezes sem sair de casa, como através da Internet que hoje nos proporciona, por exemplo, visitas guiadas por galerias de arte. Nunca será o mesmo visitar uma galeria de arte online ou num museu, mas os dois tipos de visitas assemelham-se e um habitante do interior tem de aproveitar as opções que lhe oferecem da melhor maneira que puder. O facto de o acesso à cultura ser mais difícil suscita também um maior interesse pelos acontecimentos culturais quando estes surgem. E, ao contrário do que muitos pensam, as cidades do interior têm excelentes espetáculos teatrais, exposições e encontros. Não passam por elas concertos de bandas internacionais, mas estes estão reservados apenas para as grandes metrópoles e é uma oportunidade para uma visita a esses espaços. Mais do que quantidade, é necessário qualidade. E esta existe no interior e mais acessível.
Quanto à educação, esta não é de menor qualidade no interior do que no litoral. A única diferença neste aspeto é a diversidade de oportunidades de aprendizagem e de escolha, que pode influenciar a produtividade e desenvolvimento de um aluno mas que não se relacionam diretamente com estas. Os estabelecimentos e os docentes são igualmente qualificados em qualquer lugar, daí que a qualidade seja equivalente apesar das pequenas diferenças.
Viver no interior não deve nunca ser encarado como uma desvantagem porque na realidade não o é. É preciso conhecer, saber e aproveitar o que as regiões têm para oferecer sem pensar naquilo que poderia ter e sem esperar mais do que o que é real e possível. A falta de oportunidades é compensada rapidamente pela oferta destas de um modo diferente e alternativo, e conduz diretamente à diminuição das tentações, o que também ajuda na poupança económica. Como caraterizar a vida no interior? Ar puro, ambiente, saúde, calma, poupança, segurança, satisfação, cultura, educação e, por tudo isto, qualidade.

 

Moodle Appliance - Powered by Solemp