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No dia 6 de março, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, foi-nos apresentada a exposição “Ritos da Memória”, comemorativa dos 40 anos de carreira da autora da exposição, Graça Morais. Através desta exposição, tivemos mais uma vez contacto com a importância que a pintora dá à mulher nas suas obras. E não é uma mulher qualquer, é a mulher que ela conhece e desde sempre e que pretende homenagear, uma mulher peculiar e distinta das outras, a mulher transmontana.

Natural do Vieiro, Vila Flor, Graça Morais marca as suas obras com a força e trabalho da mulher transmontana e a relação que esta tem com a terra. Porém, não se fica por aí. Alguns dos seus trabalhos vão buscar inspiração mais longe, às obras de Picasso, tal como Guernica e a outras, porque a sua obra revela, afinal, o mundo e a condição humana. Tendo como ponto de partida o real e as mulheres, ao mesmo tempo, diminui a posição do homem, mostrando-o sempre na penumbra e nunca por inteiro e dando-lhe com frequência uma conotação negativa. Embora quase ausente das suas telas em termos figurativos, a sua existência é sugerida por elementos a ele associados, como o jogo de cartas, o malho, entre outros.
A mulher parece ser, portanto, o centro do seu universo e a força vital da Terra. É, por isso, natural a recorrência de elementos que a simbolizam e evidenciam os seus traços marcantes, como a perdiz – símbolo do feminino -, a oliveira – símbolo da longevidade e da resistência, que sobrevive em terrenos agrestes, como a mulher, portanto –, os frutos, que representam a renovação, a sensualidade e, naturalmente, a natureza.
Nas obras presentes nesta exposição comemorativa, nota-se em várias a temática da metamorfose, uma tendência que se acentuou depois de 2000 – mulher-animal ou planta, por exemplo no caso da metamorfose da mulher em batata, através da qual a artista pretende mostrar a efemeridade da vida, mas também a possibilidade de lhe dar continuidade, dando à mulher um ar enrugado e com grelos (rebentos, descendência), elementos pertencentes ao tubérculo. Outra técnica recorrente é a sobreposição de imagens, em algumas peças, como quando representou a brutalidade do homem sobre a mulher e o poder da maternidade.
Também a componente religiosa integra esta exposição, ou não estivesse esta fortemente enraizada na região, como as obras que apresentam a tradição da Páscoa em Trás-os-Montes. Nelas encontramos os carneiros/cordeiro de Deus, numa alusão ao sacrifício, mas também a tradição do ramo. Verifica-se, portanto, a construção das tradições transmontanas, trazendo para a tela as marcas identitárias da região, mas abordando temáticas universais, como a violência, a religião, o sagrado. Note-se que esta região, nas suas obras, não aparece explícita, mas sugerida, por elementos e tonalidades. Do mesmo modo, surgem costumes típicos da região que qualquer transmontano rapidamente identifica, como a matança do porco, apresentada como um acontecimento festivo e de reunião familiar, visto que era garantido nesse dia o alimento para o ano.
Em conclusão, Graça Morais mostrou em “ Ritos da memória” que a mulher é a figura central e é, por isso, homenageada pela artista, mostrando a força e determinação da mulher transmontana.

 

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