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O Museu Abade de Baçal acolheu a exposição comemorativa dos 90 anos da revista “Seara Nova” cuja inauguração decorreu no dia 8 de Dezembro no Museu Abade de Baçal.

Numa sessão que contou com cerca de uma centena de participantes, viajou-se pela história da revista e inevitavelmente pela de Portugal, com uma incidência maior na importância deste órgão de comunicação durante o estado novo. Uma dupla viagem “Não é fácil regressar. Estou nervoso, apesar dos meus setenta anos. É bom respirar este ar puro da cidade tão diferente da pardacenta Bragança dos anos 50. Um tema de nove meses de Inverno, mas com calor suficiente para fazer viajar e acolher a mensagem seareira.” Um tema que, segundo Rui Vilar, tem tradição de luta e solidariedade: “Muita gente passou por aqui e foi ajudada pelas pessoas a sair do pais. O Nordeste foi por isso um canal de liberdade e os homens que ajudaram eram uns idealistas que habitavam um mundo real.” Destacando a similitude existente entre a situação actual e o “Naufrágio dos anos 20” visível até no abandono forçado do país embora as questões sejam sobretudo económicas e a necessidade de reavivar o espírito de luta e a determinação Portuguesas. A exposição era constituída por doze painéis e algumas vitrinas, onde figuravam livros que atestam a forte actividade editorial da revista e, entre outros documentos importantes, uma carta de Irene Lisboa.

Os painéis sintetizam o percurso da revista por décadas, desde o seu nascimento em 15 de Outubro de 1921, apresentando o registo cronológico dos principais acontecimentos durante esse período, excertos significativos e as cinco melhores capas.
Criada numa época marcada por uma forte crise política, social, ideológica e de valores, os seus fundadores – Augusto Casimiro, Azeredo Perdigão, Faria de Vasconcelos, Francisco António Correia, Luís da Câmara Reys, Raul Brandão, Raul Proença, Aquilino Ribeiro, Ferreira Macedo e Jaime Cortesão – encaravam-na como um órgão de intervenção, que lutasse pelos valores da cultura, ética, justiça e progresso.
Esta “intervenção foi uma constante ao longo da sua existência, na denuncia dos perigos fascistas que se adivinhavam logo entre 1921 e 1926, na critica à republica, na visão idealista de construção de uma nova sociedade alicerçada na inteligência e na cultura, na conspiração contra a ditadura militar, na visão corporativista da sociedade.” Também Rui Vilar salientou na revista o ser “a voz da consciência mais reputada durante a ditadura.” Aberta a novas ideias, foi integrando colaboradores jovens o que permitiu a sua expansão e uma maior tiragem.
No 25 de Abril de 1974 foram impressos trinta mil exemplares, e conseguiu segundo“incorporar no seu seio diversas tendências, socialistas, comunistas, católicos progressistas e muito independentes”.
Com a implementação do regime democrático, os conflitos ideológicos acabaram por se refletir na equipa da revista e ela entra em clara decadência tornando-se menos organizada e as suas publicações mais irregulares.
No presente a tiragem é de cerca de três mil exemplares, foi reestruturada, tem um site onde pode ser consultada a sua história, o índice do ultimo impresso, dossiês temáticos e, por isso, a exposição não está virada para o passado, mas para o futuro, com “a convicção de que é um periódico ímpar na impressa portuguesa”, que os cerca de 400 colaboradores que tem ajudarão a construir.
A viagem pela história, a reflexão sobre o presente que ele suscita e como, segundo Nuno Maia, “a liberdade é também uma missão dos museus” o museu Abade de Baçal é o lugar certo para a exposição.

 

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