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No âmbito da disciplina de português e acompanhados pela docente Luísa Lopes, os alunos da turma do 10ºB da Escola Secundária Abade de Baçal e duas alunas do 10ºA, que integram o clube de jornalismo participaram, no dia 16 de março, numa das atividades que decorreram na semana da leitura organizadas pela equipa da biblioteca desta mesma escola, nomeadamente um encontro com o jornalista e chefe de redação e com o diretor do semanário regional “Mensageiro de Bragança”, o mais antigo da região, que nasceu a 1 de Janeiro de 1940, cumprindo a vontade do Bispo, D. Abílio Vaz das Neves e da comunidade religiosa que queria levar a palavra de Deus onde ela não chegava e, ao mesmo tempo, manter a região informada.

Numa sessão aberta a perguntas, conheceu-se um pouco mais do jornal mais antigo de Bragança, que comemora este ano o seu septuagésimo quinto aniversário, os seus princípios e abordaram-se algumas questões relacionadas com a prática do jornalismo.
O diretor do jornal, Padre José Carlos Martins centralizou-se, primeiramente, numa perspetiva generalizada sobre o valor da palavra, associando-se, assim, ao tema do evento: “Palavras do Mundo”. A palavra jornalística aparece como veículo de transmissão de informação, mas também de estímulo do gosto pela leitura: “Quem escreve implica-se no que escreve. As mensagens podem variar de acordo com o modo como são ditas.”; “Nós, enquanto jornal, somos arautos da verdade. Quem nos lê é tanto ou mais inteligente que nós, por isso devemos ser fieis à verdade”.
António José Rodrigues exprimiu o seu ponto de vista mais técnico enquanto jornalista e chefe de redação do jornal sobre o valor da verdade. Considera que no jornalismo não existe imparcialidade, já que o contexto e os valores pessoais influenciam as escolhas efetuadas. Por isso, na sua perspetiva, não existe um artigo completamente imparcial: os jornalistas são pessoas com vivências próprias, escolhem aquilo que na sua perspetiva é noticiável, o que implica alguma subjetividade: “A verdade é o nosso primeiro objetivo. Devemos ser verdadeiros connosco e com o que nos rodeia ou então o leitor apercebe-se.” Considera que o jornalista é a voz do povo e que existem limites, não só geográficos, do ponto de vista do número e do tipo de leitores, mas também situacionais em que o respeito pela verdade e pela pessoa é importantíssimo: “A nossa liberdade termina onde começa a do outro”.
Segundo o jornalista, as principais dificuldades de um jornal passam pela dificuldade em encontrar um equilíbrio entre um jornal com conteúdo sério e o facto de conseguir resistência para não falir. A diversidade de conteúdos foi apresentada como um dos pontos fortes do jornal. A crise económica afetou também, sem exceção, este setor. Um jornal sustenta-se essencialmente da publicidade. Com a decadência da procura de publicidade, a tendência é para o jornal não resistir.
Outro grande obstáculo foi a chamada crise de valores, com as novas tecnologias que oferecem uma grande variedade de informação a preços simbólicos. Estão, no entanto, convictos de que os jornais impressos não desaparecerão, ainda que em luta constante por “sobreviver” a todos estes obstáculos. Foram destacados os pontos fortes de um jornal: “os jornais fornecem um selo de garantia, são mais fiáveis”, são um arquivo da memória coletiva do povo e, tendo o “Mensageiro de Bragança” um artigo tão antigo e rico, são constantemente procurados exemplares para documentar algo. José Carlos Martins considera que “ ainda que passando diversas dificuldades, o jornal em papel nunca vai desaparecer, pois a escrita credibiliza aquilo que é dito”. Além disso, o jornal tem tentado adaptar-se a esta nova realidade, disponibilizando conteúdos na internet, através da edição online ou da página do facebook que possui. A necessidade de inovar e crescer justifica uma nova rubrica que o jornal apresentará brevemente e que se relaciona com livros e leitura.
O que torna um jornal bom não é o conteúdo que a pessoa quer ler, mas sim conteúdos simultaneamente verdadeiros, de interesse público e apelativos. Por isso, o objetivo dos jornalistas passa por adquirir o maior número de notícias pertinentes, precisando, para tal, de boas fontes. Um bom jornalista caracteriza-se pelo facto de ter boas fontes e sabê-las cultivar, e, ainda, por escrever muito bem.
Outro dos assuntos abordados foi a facilidade ou dificuldade em escrever uma notícia. Os convidados consideram todas as temáticas difíceis. No entanto, destacaram a religião, já que é uma realidade muito específica e com muitos termos específicos, o que, dado o teor religioso do jornal, levou a direção a oferecer formação aos seus jornalistas sobre esta área.
Finalmente, os alunos quiseram conhecer momentos marcantes na vida dos convidados, enquanto jornalistas. José Carlos Martins respondeu com um brilho nos olhos e com palavras sentidas: “A notícia que marcou mais este jornal foi relativamente recente e diz respeito ao encontro com “A personalidade”, o Papa Francisco. Recebeu-nos de braços abertos e ficou maravilhado com o facto de virmos de tão longe e fez questão de ficar com um exemplar do jornal. António José Rodrigues recordou uma experiencia positiva e outra negativa vivida enquanto exercia a profissão: “Sempre quis ser jornalista. Posso estar sempre no centro da ação. É a minha maior motivação durante estes 11 anos. Lembro-me do ano de 2004, ano de Jogos Olímpicos e do Campeonato Europeu de Futebol. Tinha começado a estagiar e, por um motivo qualquer, fui chamado para acompanhar a seleção espanhola. Foi uma sensação única.”. Experimentou também momentos difíceis, como aquele em que foi fazer uma reportagem de um acidente de carro: “Fui para o local e, infelizmente, as vítimas eram mortais. No meio dos destroços vejo um carrinho de bebé. Foi terrível.”
Esta atividade proposta pela biblioteca contribuiu não só para o enriquecimento pessoal de cada um dos alunos desta turma, mas também os cativou, de certo modo, para a leitura de jornais, nomeadamente os jornais regionais de modo a fomentar a imprensa a nível do distrito.

 

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