Palavras que marcam

     
Nuno Camarneiro,  "No meu peito não cabem pássaros"
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O livro que li intitula-se “O Japão é um Lugar estranho” e tem como escritor o australiano Peter Carey. Peter Philip Carey é um escritor, jornalista e roteirista australiano que venceu o Prémio Booker dois vezes, em 1988, com a obra “Oscar and Lucinda”, e ,em 2001, com o romance histórico “True History of the Kelly Gang”. Esta obra despertou a minha atenção, não só pelo título, mais precisamente a referência ao país nipónico, mas também pela expressão “lugar estranho”.  

Nesta obra é narrada a viagem que o autor realiza com um dos seus filhos, Charley, a Tóquio.  Apesar de ser a terceira viagem do progenitor à capital do país nipónico, nesta vez ele descobre e vivencia acontecimentos únicos. Esta viagem é uma oportunidade para Peter estabelecer laços familiares mais fortes com o jovem e, simultaneamente, divulgar aspetos culturais exóticos e surpreendentes para os ocidentais que desconhecem este país asiático. Charley, um adolescente de doze anos, começa a demonstrar interesse pelos aspetos japoneses após o contacto com os mundos de “anime” e “manga”. No momento em que Peter lhe anuncia a viagem a Tóquio, ele fica, por isso,  entusiasmado e pretende conhecer o melhor possível o país, não só fisica, mas também socialmente. 

Com efeito, o título do livro, “O Japão é um Lugar Estranho”, simboliza a diferença entre a mentalidade do mundo ocidental e a nipónica, bem como aspetos físicos, como por exemplo a gastronomia, a rede de estradas e comunicações e a informática. Todos estes pormenores provocam sentimentos de surpresa e ansiedade nos intervenientes da ação, que são transmitidos de uma forma precisa ao leitor. 

Por outro lado, esta narrativa tem uma forte componente mensageira. Este facto é particularmente visível nos testemunhos de alguns japoneses, que descrevem as bombas atómicas e as guerras como sendo um inferno, apelando ao fim do fabrico de armas e, principalmente, ao desuso destas para fins violentos. Está ainda presente o princípio de um percurso para a globalização, pois no final a avó de Takashi beija a testa de Charley de uma forma ocidental, o que pode significar uma aproximação entre as duas culturas, mas também o perigo de perda das especificidades japonesas. Esta ideia é sugerida pelo narrador através de Takashi, que, em diversos momentos, copia modas americanas, evidenciando o fascínio por essa cultura. 

Deste modo, as informações que esta obra transmite ao leitor são muito pertinentes, já que são retratados aspetos que raramente figuram nos guias turísticos e que são entusiasmantes. Além disto, também são reveladas algumas preocupações poéticas e artísticas de grande profundidade e sensibilidade comuns a todos os nipónicos. 

 Concluindo, a obra “Japão é um lugar estranho” é uma obra interessante e de fácil leitura, que valoriza as viagens e o enriquecimento proporcionado, bem como atualiza o leitor acerca das preferências dos adolescentes, que serão os adultos no futuro. Esta narrativa deixa patentes vários momentos únicos japoneses, muitas vezes desconhecidos do público em geral.

 

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