Palavras que marcam

     
Nuno Camarneiro,  "No meu peito não cabem pássaros"
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Não é por acaso que Gabriel Márquez foi considerado o pai do realismo mágico e foi vencedor de um prémio Nobel. 

É quase impossível descrever este livro em tão poucas linhas. À primeira vista, parece retratar apenas a história das sete gerações da família Buendía e sua vida numa cidade fictícia denominada de Macondo. 

Todavia, à medida que avançamos na leitura é que nos damos conta da obra que temos em mãos. Não só pela sua linguagem clara, pelo seu enredo muito bem construído, na medida em que não há “pontas soltas” e pela leveza de leitura, mas também em função das personagens fortes e temáticas abordadas. 

O tema da solidão é bastante evidente, pois estas sete gerações partilham, de uma forma geral, os mesmos vazios, tristezas e até destinos. O facto de os nomes “José Arcádio” e “Aureliano” se repetirem várias vezes na família é espantoso. Coloca em evidência que, com este família, o tempo não passa de forma “regular”, mas sim de forma “circular”, como se os personagens estivessem condenados a viver em “círculos”, sempre repetindo os mesmos erros. 

Também considerei incrível a relação que se pode retirar entre um acontecimento específico e a sociedade atual. O acontecimento de que falo diz respeito ao período de cinco anos de chuvas intensas que a população de Macondo é sujeita. Durante este período imensas pessoas decidiram apenas voltar a realizar tarefas quando a chuva findasse, isto é, deixavam sempre tudo para o dia seguinte. É tão visível atualmente as pessoas deixarem tudo para depois, apenas por preguiça, que eu achei esta parte do livro deveras interessante. 

No entanto, a meu ver, as partes finais do livro foram as mais marcantes. Melquíades, “o cigano” que apareceu no inicio do livro, surpreendeu imenso. O facto de ele ter escrito uns pergaminhos numa língua que nenhum Buendía conseguia decifrar, e depois assistir ao último membro da família a conseguir traduzi-los foi de arrepiar. Além disso, nem há palavras suficientes para descrever a sensação que se sente quando verificamos que os pergaminhos contêm o passado, o presente e o futuro da família Buendía toda! Como se o livro que temos nas mãos fosse esses mesmos pergaminhos (se bem que este aspeto é mais uma consideração pessoal, visto que partiu da minha interpretação das linhas finais da obra). 

Concluindo, “Cem anos de Solidão” é um livro que eu naturalmente recomendo, pois está recheado com tudo o que um leitor nato pode pedir numa obra: humor, emoções fortes, tristeza e aquele maravilhoso arrepio ao ler a última linha. É um livro que não se deve ler apenas uma vez, mas várias, pois em todas as releituras, certamente, iremos aprender algo de novo. 

 

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